Rede Manchete: Uma TV que marcou os brasileiros.

A reportagem especial de hoje vai narrar a saga de uma Rede que marcou uma geração, pelo seu modo diferenciado de se fazer TV. Uma rede que respeitava seu público e que oferecia programação de qualidade e entretenimento a todos:
-Uma rede que realmente “aconteceu, e virou Manchete”
Nasce a Manchete. 

As nove concessões de TVs extintas, da TV Tupi, cassadas em 1980, mais a vaga da TV Excelsior de São Paulo, cassada em 1970, foram cedidas ao jornalista e empresário Adolpho Bloch e ao empresário e apresentador Silvio Santos, em 19 de Agosto de 1981 pelo então presidente do Brasil, João Figueiredo.
Nesse dia, passaram às mãos de Bloch, quatro emissoras que pertenciam à Rede Tupi e TV Excelsior. Outras quatro concessões de TV Tupi foram cedidas a Silvio Santos, que lançou o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), no mesmo dia. O Grupo Bloch decidiu adiar o lançamento da emissora, para poder preparar o projeto com calma.
A Rede Manchete herdou canais no Rio De Janeiro (cidade onde estava localizada sua sede), além de São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza e Recife.
A inauguração
Quase dois anos depois das concessões, a Rede Manchete foi ao ar pontualmente às 19h do domingo, 5 de Junho de 1983. Contando com um investimento inicial na casa dos US$ 50 milhões, investimento altíssimo para a época. Logo na estréia, a Rede Manchete chegou com grandes inovações. O primeiro programa a ser exibido foi um show denominado "Mundo Mágico", contando com a participação de diversos conjuntos musicais e artistas, com várias atrações, dentre elas o recente grupo musical Roupa Nova, a atração foi transmitida ao vivo. A audiência chegou a incomodar o Jornalístico "Fantástico", exibido pela TV Globo. Depois do show, a Rede Manchete colocava no ar o primeiro filme exibido em sua história o filme inédito "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", de Steven Spielberg, que colocou a emissora na liderança em audiência, alcançando 27% contra 12% registrados pela Rede Globo. Isso acabou assustando as outras emissoras.
No mesmo ano a modelo Xuxa entrava no ar com o “Clube da Criança”, na época isso gerou muita polêmica, já que Xuxa havia pousado para muitas revistas masculinas. Xuxa conquistou o público infantil, e 1986, foi contratada pela Rede Globo para apresentar o” Xou da Xuxa”
Programação de altos e baixos.
A programação da emissora foi marcada por altos e baixos durante a sua existência. A cobertura do carnaval carioca também teve grande destaque na programação da TV Manchete. A emissora mostrava os preparativos da grande festa popular com os programetes “Feras do Carnaval” e “Esquentando os Tamborins”, exibido ao longo da programação.
As telenovelas da emissora marcaram época, foram grandes sucessos como, “Dona Beija” (1986), “Helena (1987)”, “Corpo Santo” (1987), “Kananga do Japão” (1989), além da sua primeira produção dramaturgia, a minissérie “Marquesa de Santos” (1984).
Um dos seus mais notáveis sucessos foi à novela Pantanal, exibida em 1990. Vieram outros como “A História de Ana Raio e Zé Trovão” (1991), “Tocaia Grande “(1995) e “Xica da Silva” (1996),
Mas a Rede ficou conhecida mesmo pelos seus sucessos infantis. Séries de Tokusatsu e animes, com grande sucesso. Nos anos 80 eram exibidas as séries Patrulha Estelar,Jaspion, Jiraiya, Changeman, Flashman, entre outras, além de desenhos como [[Calvin e o Coronel, Dartagnan e os três mosqueteiros, Don Quixote de La Mancha, Família Drácula, O Pirata do Espaço, Patrulha Estelar, Superaventuras, Família Tró-ló-ló, Josie e as gatinhas, Lorde Gato e Marmaduke, A turma do abobrinha e Goldie Gold]] . Nos anos 90 foi a vez dos animes Cavaleiros do Zodíaco, Samurai Warriors, Shurato, Yu-Yu-Hakushô, Sailor Moon, além das séries Black Kamen Rider, Maskman, Cybercops, Patrine e Winspector.
Logo que foi inaugurada a Manchete, tinha uma programação muito voltada para jovens. Exibia nos finais de tarde, o FM TV, que era um programa de videoclipes musicais. Alguns de seus apresentadores tornaram-se nomes conhecidos do grande público: Patrícia Pillar, Emílio Surita e João Kléber são bons exemplos.
Outro nome famoso, que ganhou projeção na Manchete foi o do radialista Eloy Decarlo. Conceituado comunicador carioca, se tornou nacionalmente conhecido quando, por todo o tempo de existência da emissora, foi o "voz-padrão" das chamadas da programação do canal e das vinhetas.
O jornalismo foi o carro-chefe da emissora. O telejornal “Jornal da Manchete”, o principal informativo do canal, trazia aprofundamento das notícias e comentários de grandes nomes do jornalismo brasileiro, como Carlos Chagas. Também revelou as apresentadoras Mylena Ciribelli e Cláudia Cruz, e Alexandre Garcia que posteriormente transferiram-se para a Rede Globo.

Traçando uma história. 

Em fevereiro de 1984, a Rede Manchete estreou na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, ocorridos no recém inaugurado Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A Manchete transmitiu o evento com exclusividade. A Rede Globo se recusou em cobrir a festa devido os atritos entre Leonel Brizola, então governador do estado fluminense, e Roberto Marinho. A transmissão foi ao vivo, e renderam a Manchete inacreditáveis 80 pontos de audiência. O ano marcou também pela criação do núcleo de dramaturgia e pela transmissão dos comícios das "Diretas Já". No mês de agosto a Manchete começou a exibir a primeira produção de dramaturgia. A minissérie, “Marquesa de Santos”, protagonizada por Maitê Proença e Gracindo Jr. A trama obteve bons números a emissora.
A emissora ganhou projeção esportiva em transmitir os Jogos Olímpicos de Los Angeles(1984) e Barcelona(1992). Também, a “Copa Rio”, e a Copa do mundo de futebol da Itália (1990).
No período de 1986 a 1991, chega a ser a segunda maior rede de televisão do Brasil, incomodando em muito o SBT, e se torna a terceira maior potência da TV Latina Americana.

As crises se iniciam. 

No ano de 1991, a Manchete começa a investir milhões de dólares na nova novela Amazônia, que foi um fracasso de audiência. A Manchete entrou em grave crise econômica (a causa principal: foi o altíssimo investimento na novela, que acabou em um estrondoso prejuízo).
Em 92 a rede começa a buscar alternativas para a crise. A Manchete começa a ser negociada com o grupo IBF (Indústria Brasileira de Formulários), presidida pelo empresário Hamilton Lucas de Oliveira. Em maio de 1992 concretizava-se a venda da Rede Manchete de Televisão para o grupo, 670 funcionários foram demitidos, e a base de operações foi transferida para São Paulo. O grupo IBF, permaneceria administrando a emissora até a Bloch Editores se restabelecer em 1993, quando retornaria às mãos do empresário.
Mas nem tudo sai como planejado. Por atraso no pagamento de salários, funcionários resolvem retirar a emissora do ar, na tarde do dia 15 de março de 1993. Eles exibem em seguida um protesto escrito, colocando no ar um slide denunciando a falta dos pagamentos e o sucateamento da emissora. No mesmo dia é deflagrada uma greve de funcionários.
Após o episódio, Bloch entra com um processo na Justiça a fim de retomar a emissora. Através de medida cautelar, a emissora retornou ao controle do empresário em 23 de abril de 1993. A Justiça do Rio de Janeiro alegou que a IBF, descumpriu cláusulas contratuais.
Em 1995 a Manchete chegou a esboçar uma reação. Suas novelas se destacavam na audiência, animes e séries japonesas faziam sucesso tomando grande parte da programação, seus jornais voltavam a ter respeito do público. Mas ainda sim a rede alugava grandes espaços para programas religiosos.
Mas em 20 de Novembro de 1995, o proprietário da emissora, Adolpho Bloch, falecia aos 87 anos, vítima de embolia pulmonar. Os parentes de Adolpho assumem a presidência da emissora.
Os últimos sucessos da rede foram à novela “Xica da Silva” que entrou no ar em 1996, e sua sucessora, a novela “Mandacaru” (1997). Ganharam amplo destaque os programas: "Na Rota do Crime", "Operação Resgate, ambos policiais, e "Uma História de Sucesso", programa que mostrava o dia a dia de personalidades famosas da música e da televisão.
A partir de 1997 a emissora passou a apelar para a nudez, em uma desesperada estratégia de se obter a vice-liderança.
O último suspiro correu no dia 31 de Dezembro de 1998, com a assinatura de um contrato, do qual a Igreja Renascer Em Cristo, da Bispa Sônia Hernandes, se dispõe a administrar a emissora mediante pagamento mensal de R$ 4,8 milhões durante 15 anos. A emissora melhorou muito. A igreja passa a produzir todos os programas e a vender os espaços comerciais da emissora, mas não paga os salários dos funcionários, atrasados em quatro meses. Após quase um mês nas mãos da Renascer, a Rede Manchete retornou ao comando da família Bloch. O arrendamento foi desfeito na justiça, devido à inadimplência da fundação.

A falência e a venda. 

Em janeiro de 1999, o "Jornal da Manchete”, ficou fora do ar por alguns dias. Era o sinal de que a Rede agonizava em dívidas, e que esses seriam seus últimos dias.
Em 2 de maio de 1999, o empresário e sócio do Banco Rural, Amilcare Dallevo Júnior, presidente do grupo “TeleTV”, que operava o sistema de ligações interativas através do prefixo 0900, assinou-se um contrato para administrar 30% das dividas da emissora e a concessão dela.
Em 8 de maio, depois de várias reuniões, num acordo acompanhado pelo Ministério das Comunicações, as emissoras foram adquiridas pela TV Ômega, de propriedade de Dallevo Júnior. A transação ocorreu dez dias antes do prazo final para a renovação das concessões, que estavam vencidas desde 96. Em 9 de maio, a TV Manchete é vendida ao grupo TeleTV. A empresa vai pagar passivos de R$ 330 milhões, investindo US$ 100 milhões nos próximos 12 meses. No dia 10 de maio de 1999, passaram-se os últimos momentos da emissora. Uma vinheta que no final disse: "Rede Manchete, Você em Primeiro Lugar!" e a partir daquela vinheta, a TV Manchete passa a se chamar “TV!” - e em 1999 passou a se chamar a atual “RedeTV!”, Era o fim da Rede Manchete de Televisão.
Dallevo transferiu a sede da emissora para a cidade de Barueri, em (São Paulo), e inaugurou em 15 de novembro de 1999 a “RedeTV!”, com uma programação completamente diferente do “padrão Manchete”.
Amilcare Dallevo não honrou o compromisso assinado com os Sindicatos dos Jornalistas e dos Radialistas do Estado do Rio de Janeiro. Compromisso assinado apenas por exigência do Ministério das Comunicações, para a transferência da concessão. Dallevo honrou-se a pagar todas as dívidas trabalhistas, caso contrário a concessão seria cancelada. Dallevo não pagou, e a “RedeTV!” continua no ar.
Em novembro de 2007, uma tardia luz surge no fim do túnel. A TV Pampa de Porto Alegre foi presenteada pela justiça com o nome TV Manchete. O vice-presidente da emissora diz que não sabe o que vai fazer com o nome, e que a decisão não será feita em curto prazo.


Um vazio que não se preenche.
Com certeza essa perda foi mais impactante às crianças. Lembro-me de estudar à tarde, e sair da escola correndo para conseguir chegar a tempo de tomar banho, trocar de roupa e sentar na sala para assistir a “Cavaleiros”. Não consigo esquecer o único assunto que rodava na escola: Os desenhos da Manchete.

“Yu-Yu-Hakushô”, “Shurato”, “Super Campeões”,” Cybercops” e “Winspector” marcaram minha vida. Despertaram-me para um novo mundo. Um mundo de aventuras e de super-heróis, um mundo fantástico que me mostrou uma nova cultura: a japonesa.
Considero-me sortudo, pois aqui no Rio, nos cariocas até pouco tempo ainda avistávamos o fabuloso edifício da emissora na Glória. Uma obra assinada por Oscar Niemeyer, que ainda exibia em sua fachada, o majestoso “M” dourado, com suas esferas no centro e nas pontas.

Hoje vejo o quanto a “Rede Manchete” representou minha infância, sinto muita tristeza em ver que nenhuma outra emissora se preocupa em agradar esse público carente. Que foi abandonado pela TV aberta, e se vê obrigado a recorrer a alternativas.

Atualmente vivemos um período de regressão. A “Rede Record” investi pesado na tentativa de consolidar a vice-liderança, e alcançar a “Globo”, essa concorrência gerada é boa. Mas no meio está o “SBT”, que começa a se afundar em crise, e se já não bastasse, os bispos começam a “botar um freio” nos investimentos da “Record”.Isso me dá receio de ver mais uma dessas grandes emissoras ruir. Aumentando a ferida deixada pela “Manchete”. 

Slogans: 
Televisão de primeira classe (1983-1988)
O Brasil passa na Manchete (1988-1991)
A força de quem acredita no trabalho (1992-1996)
Você em primeiro lugar (1996-1999)

Fonte: http://telaligada.blogspot.com.br/2008/04/rede-manchete-uma-tv-que-marcou-os.html